A associação entre ansiolíticos e doença de Alzheimer
- Ademar Moreira Pires
- 12 de mai. de 2017
- 2 min de leitura
O uso de ansiolíticos tem aumentado muito nos últimos anos e essas medicações já estão entre os seis mais prescritas em todo o Brasil, segundo avaliação publicada na Folha de São Paulo em 2012. Apesar de serem medicações de ação rápida e eficaz, não estão isentas de risco, sendo que as alterações de memória são um dos efeitos colaterais mais comuns. Com base nessas constatações, têm sido investigadas associações dessas drogas com o aumento da incidência de alterações definitivas do raciocínio e da capacidade de pensamento, como ocorre na Doença de Alzheimer. Apesar de serem poucos estudos, os resultados merecem atenção.
Essas substâncias são agrupadas sob o nome de benzodiazepínicos, e as mais comumente utilizadas incluem clonazepam (Rivotril), lorazepam (Lorax), alprazolam (Frontal), bromazepam (Lexotan), entre outros. Têm a propriedade de causar dependência e por isso sua venda é controlada com o uso de receitas especiais (azuis) e a caixa das medicações têm uma tarja preta. São úteis para o tratamento transitório de transtornos de ansiedade e insônia, já que trazem alívio rápido dos sintomas enquanto os outros medicamentos utilizados demoram ao menos algumas semanas para o benefício terapêutico. Os efeitos colaterais são mais sentidos principalmente em idosos, que têm inclusive o risco de queda aumentado com possibilidade de fraturas graves.
Em 2012, foi publicado um estudo realizado na França e, em 2014, outro realizado no Canadá, em que se verificou que o grupo de idosos que utilizava esses ansiolíticos tinham chance cerca de 50% maior de desenvolver demência, como a doença de Alzheimer. O risco parecia ser maior nos que utilizavam as medicações em doses mais altas e por tempo prolongado. Esses resultados foram criticados devido a possíveis falhas nas avaliações, porém houve repercussão na comunidade médica e continuaram a ser realizadas pesquisas sobre o assunto. Existem atualmente um grupo de outros estudos que não encontraram a associação entre uso dos benzodiazepínicos e aumento do risco de demência, o que torna o tema controverso. É fato que todas essas pesquisas têm limitações importantes, o que ocorre pela própria dificuldade de fazer esse tipo de avaliação.
A doença de Alzheimer, por exemplo, é lentamente progressiva e quando os primeiros sintomas se manifestam, já estão presentes alterações cerebrais há muitos anos. Pode ocorrer de essas medicações apenas facilitarem a expressão dos sintomas nessas pessoas que já têm problemas muito leves de memória ou atenção, antes imperceptíveis. Além disso, nos indivíduos com alterações demenciais é muito comum a ocorrência de sintomas depressivos e ansiosos logo antes da manifestação do problema cerebral, e por esse motivo essas pessoas utilizam mais os ansiolíticos, o que leva a falsa impressão de que o medicamento é que causou a doença de Alzheimer.
Apesar de toda essa controvérsia, as recomendações internacionais já indicam há muitos anos que os benzodiazepínicos sejam utilizados pelo tempo mais curto possível, não só pelos riscos conhecidos, mas também pela falta de eficácia comprovada em longo prazo para insônia e talvez também para os transtornos de ansiedade. Ou seja, independentemente de haver ou não risco aumentado de alterações definitivas de memória e atenção, não se recomenda habitualmente que sejam prescritos por muitos meses ou anos. Esse alerta sobre a doença de Alzheimer apenas reforça essa orientação e a necessidade constante de avaliar se a medicação deve continuar a ser utilizada ou não.

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