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Sobre o tratamento da depressão

 

Apesar de existirem estratégias eficazes para manejo da depressão, menos da metade dos acometidos (em alguns países menos de 10%) recebem tratamentos adequados. A escolha da forma de abordagem depende da gravidade, tempo de evolução do transtorno, contra-indicações e principalmente das preferências de cada paciente. Basicamente, para a maioria dos casos, há dois caminhos principais: o tratamento medicamentoso e as psicoterapias. Entretanto, existem outras formas eficientes de tratamento para casos graves e outras estratégias que têm sido estudadas mais recentemente.

Além disso, a abordagem dos outros problemas de saúde, principalmente os que comprometem a autonomia do paciente, é essencial para o sucesso do tratamento da depressão. Até mesmo o manejo de dor crônica ou de dificuldades visuais e auditivas pode trazer melhora significativa do transtorno psiquiátrico.

Tratamento medicamentoso

Existem vários grupos de antidepressivos disponíveis, sendo que todos eles tendem a ser igualmente eficazes no tratamento do transtorno, apesar de haver uma variação na resposta de pessoa para pessoa. A diferença principal de cada um são os efeitos colaterais e a capacidade de interagir com outras medicações, o que é relevante principalmente para os idosos, que frequentemente estão em tratamento de alguma outra doença. Os antidepressivos levam em média quatro semanas para terem seu efeito verificado pelo paciente e nos com mais de 60 anos esse tempo pode ser até maior. A duração do tratamento geralmente é longa e ocorre por pelo menos 6 a 12 meses após o paciente ter se recuperado do transtorno. O uso dessas medicações por tempo ainda mais longo é opção para os casos de episódios depressivos recorrentes ou preferência do próprio paciente, que muitas vezes percebe melhora significativa de sua qualidade de vida, sem efeitos colaterais importantes com o uso dessas substâncias. Não causam dependência, entretanto, algumas delas, se interrompidas abruptamente, podem desencadear sintomas de retirada, como tonteira, formigamentos e outras alterações de sensibilidade, além de um quadro parecido com uma gripe forte.

 

Veja também: Medicamentos antidepressivos

 

Psicoterapia

As psicoterapias têm eficácia equivalente às medicações antidepressivas quando realizadas por profissional capacitado. Segundo relatório da OMS (2005), as principais intervenções psicoterápicas breves podem ser categorizadas de acordo com sua base teórica em quarto grupos:

-terapia psicodinâmica (baseada nos princípios da psicanálise)

-terapia interpessoal

-terapia de suporte (abordagem centrada na pessoa / teoria rogeriana)

-terapia cognitivo-comportamental

 

-Terapia psicodinâmica / psicanalítica

Atua primariamente no desenvolvimento de insight do paciente, aquela sensação de compreensão súbita de alguma situação que gera angústia. Aborda a elucidação de questões inconscientes e está baseada na idéia que experiências da infância, conflitos anteriores mal elaborados e relacionamentos prévios influenciam significativamente o quadro depressivo atual. 

É uma das abordagens mais disponíveis em nosso meio e tende a ser um processo mais longo e menos estruturado que as outras psicoterapias.

 

-Terapia interpessoal

Avalia quatro tipos de relações que estariam associadas à depressão: disputas/conflitos interpessoais, transição de papéis sociais, luto e déficits em habilidades interpessoais.

É uma das terapias mais estudadas para o tratamento da depressão e se propõe a ser breve e focada no presente. Ainda é pouco disponível em nosso meio, apesar da eficácia comprovada.

 

-Terapia de suporte

É muito utilizada em vários contextos clínicos e se propõe a auxiliar os pacientes a lidar melhor com a doença ou crises, além de melhorar otimismo e instilar esperança.

 

-Terapia cognitivo-comportamental

Nessa abordagem, o terapeuta auxilia o paciente de forma colaborativa a identificar e corrigir crenças desadaptativas que estejam prejudicando o seu funcionamento. Isso ocorre através de aprendizado, redução de emoções negativas através de exposição repetida e outros mecanismos. Aplica-se melhor a pacientes altamente motivados e que valorizam abordagem voltada à solução de problemas. A terapia cognitivo-comportamental tem passado por várias adaptações e tem agregado elementos de várias outras terapias que tem se mostrado eficazes em diferentes estudos. É a mais embasada em evidências e seu uso tem crescido cada dia mais devido à eficácia comprovada em diferentes transtornos psiquiátricos

 

 

Existem também outras modalidades de psicoterapia com menos suporte empírico, além de outras estratégias que podem se adaptar melhor a pacientes específicos. Uma delas inclusive é a realização de atividades físicas. Foi demonstrado que exercícios regulares, principalmente aeróbicos, em sessões de 30-45 minutos, 3 a 5 vezes por semana são capazes de reduzir sintomas depressivos de menor gravidade em idosos.

 

Apesar dessas várias alternativas, há algumas dificuldades em relação ao tratamento, como a disponibilidade limitada de terapeutas bem formados, preço das medicações e o próprio estigma em relação à depressão, seja por crenças de senso comum ou por experiências ruins em abordagens prévias. Considera-se, porém, que a perspectiva tem sido de melhora com a maior divulgação de informações sobre os transtornos psiquiátricos e ênfase em tratamentos eficazes com base nas preferências dos pacientes.

Dr. Ademar Moreira Pires

Psiquiatria geral e psicogeriatria

 

Clínica Prazer em Viver - Rua Hermilo Alves, nº 66 - Santa Tereza - Belo Horizonte.

Telefone:  (31) 3956-0453

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